quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Clã

Dezembro, pleno Inverno. Noite fria, calma, escura, há neve por todo o lado, as famílias optam por se juntar em casa, à volta da lareira. Na rua apenas respira uma leve e silenciosa brisa que transporta as folhas das árvores caídas na neve, não há sinal de gente, não que se consiga ver. Crianças preferem o conforto de uma casa bem aquecida à neve, adultos, convívio e chocolate quente, para aquecer a alma. Típica noite de Inverno. Várias horas passam pela noite fora, o ambiente mantém-se calmo, frio, silencioso. Luzes acesas em todas as casas, famílias reunidas, sem excepções à regra. Noite perfeita, de facto, família reunida, lareira acesa.Uma realidade que, a meu ver, cada vez mais paralela à minha se torna. Neve? Não em Lisboa. Calmaria, silêncio, serenidade? Em Lisboa também não há disso, e certamente não há também entre os meus. Família? Sim, claro. Reunida? Em tempos, talvez, mas reunida deixou há muito de ser a palavra certa para definir a minha família. Conflitos, discussões, desentendimentos... Mil e uma razões que levaram e, cada vez mais, levam ao cada vez maior e mais grave afastamento de um clã. Um clã que em tempos, remotos, devo dizer, considerei dos mais fortes e unidos, mas que, num piscar de olhos, num estalar de dedos, se tornou apenas num grupo de pessoas que padecem da mesma condição genética. "Que diferença faz?" perguntam-se. A diferença entre um grupo de pessoas e um clã, uma família, é aparentemente ínfama, mas colossal, abismal. Uma diferença que, por palavras, não consigo transmitir, mas que no fundo, me entristece bastante. Porque saber que algo pode, tão repentinamente, mudar de forma tão radical, assusta-me. E assusta-me porque me faz pensar: "E se um dia tudo o que construímos, simplesmente desaparecer?". Isso sim, assusta-me, isso sim, entristece-me, isso sim, assombra-me.

1 comentário:

  1. não são nada de especial...
    Os teus é que são lindos, a sério, escreves mesmo bem .
    Adoro (:

    ResponderEliminar